segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Possibilidade do conhecimento

I. Possibilidade do conhecimento 1. O Dogmatismo O Dogmatismo é uma posição epistemológica para a qual o problema do conhecimento não chega a ser levantado. Este já é dado pelo próprio objeto. A expressão dogma exprime isso: doutrina estabelecida. Portanto, para o dogmático não existe problema para o conhecimento, tendo em vista que na relação entre sujeito e objeto tudo já está estabelecido pelo objeto. 2. O Ceticismo É uma corrente que se torna antagônica ao dogmatismo. A palavra que dá origem ao termo ceticismo é a expressão grega Sképtesthai, considerar, examinar. Enquanto o dogmático se centra no objeto e dele estabelece a verdade do conhecimento, o cético centraliza seu olhar no sujeito e coloca neste o critério de verdade para o conhecimento, já afirmando a impossibilidade de conhecimento. “O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria, segundo ele, impossível. Por isso, não podemos fazer juízo algum, ao contrário, devemos nos abster de toda e qualquer formulação de juízos”[7]. Esse é o ceticismo extremo de Pirro de Elis (360-270 a.C) e acabaria por cair em enormes contradições. Negar a possibilidade de conhecer é negar ao homem algo de essencial na sua dinamicidade, a capacidade de conhecer o mundo. Mas existe também o ceticismo médio de Arcesilau e Carnéades de um conhecimento verossimilhante à verdade. Na filosofia moderna o ceticismo entrou com Montaigne (ceticismo ético); Hume (ceticismo metafísico) e com Descartes que proclamou os direitos da dúvida metódica, criando o ceticismo metódico e não de princípio[8]. 3. O Subjetivismo e o relativismo O ceticismo no fim negou a verdade. O dogmatismo o absolutizou; o subjetivismo e o relativismo se aproximam do ceticismo ao proporem a não existência de verdades universais. Não existe, segundo essa concepção verdade universalmente válida e apreendida por todos. O subjetivismo coloca no sujeito a referência para o conhecimento. É o sujeito que determina e avalia o critério de valor dos juízos. O relativismo vai nessa linha, contudo, não se limita aos elementos internos ao sujeito. O relativismo leva em conta os fatores externo que interferem no conhecimento (a história, a cultura etc). A expressão máxima dessa corrente se encontra nos sofistas que a traduzem na expressão: “O homem é a medida de todas as coisas”. O subjetivismo e o relativismo padecem de contradições semelhantes às do ceticismo a o negarem a existência de uma verdade universal válida para todos. No fundo, como afirma Hessen, subjetivismo e relativismo são ceticismos, pois negam também a verdade, não diretamente, mas indiretamente, na medida em que contestam sua validade universal.[9] 4. Pragmatismo Essa corrente foi fundada pelo americano William James (+ 1910). Sua tese geral é que o homem é um ser prático dotado de vontades, ativo e não um ser pensante teórico. O pragmatismo focaliza na teoria do conhecimento a praticidade do pensamento humano. “A verdade do conhecimento consiste, portanto na concordância do pensamento com os objetivos práticos do homem – naquilo, portanto, que provar ser útil e benéfico para sua conduta prática.[10] Hessen cita Nietzsche como um dos maiores defensores do pragmatismo na Alemanha. Este defendia a filosofia como valor prático para a vida. “A verdade não é um valor teórico, mas uma expressão para a utilidade, para a função do juízo que é conservadora de vida e servidora da vontade de poder”.[11] Para Hessen o erro fundamental dessa corrente é o desprezo pela esfera lógica, que significa negar o próprio valor e autonomia do pensamento humano. Seu êxito foi a conexão entre pensamento e aplicação na vida. 5. Criticismo Para Hessen, o criticismo seria o meio termo entre pragmatismo e ceticismo. “Ele compartilha com o dogmatismo uma confiança axiomática na razão humana; está convencido de que o conhecimento é possível e de que a verdade existe; e do ceticismo compartilha uma desconfiança com relação a qualquer conhecimento determinado”.[12] O Criticismo se comporta como “inquisidor”; ao mesmo tempo que reconhece a existência do conhecimento, questiona e avalia a validade dos seus juízos. O criticismo funciona como elemento necessário no desenvolvimento do conhecimento humano. Hessen fala do criticismo na Antiguidade com Platão e Aristóteles e também os estóicos; na Idade Moderna com Descartes, Leibniz, locke, Hume e Sobretudo com Kant, considerado o fundador do criticismo.

O mito da caverna e o conhecimento do mundo

Uma das passagens mais conhecidas da literatura universal o mito platônico apresenta-se como o de maior campo de aplicação. Educação, política, religião, Epistemologia, são campos onde podemos aplicar os conteúdos existentes no mito da caverna. Se quisermos utilizar uma metáfora poderíamos comparar os ensinamentos do mito a molas comprimidas que ao serem liberadas exercem força sobre tudo que se coloca à sua frente. Tomemos, portanto, o mito de uma perspectiva filosófica. As personagens imaginadas por Platão encontram-se acorrentadas as suas opiniões, as projeções que se apresentam a eles tornam-se reais, visto que só conhecem aquilo. Não lhes chega a mente a possibilidade de existência fora daquela “realidade”, esses homens sofrem do pior mal da existência humana, a ignorância, esta para Platão é o pior dos vícios, a mais vil condição humana. Ao libertar-se e sair da caverna um desses prisioneiros depara-se com outro mundo diferente do seu, neste mundo ele percebe que aquilo que via no fundo da caverna não passam de falsidades diante do original, sombras imperfeitas de um mundo maior, a não dependência de uma luz artificial (a fogueira – artifícios utilizados pelos homens para “explicar” seu mundo e manter-se no estado de ignorância, no mundo da opinião) causa-lhe surpresa e alegria, a luz do Sol permite-lhe ver mais, de início com bastante dificuldade, depois com a surpresa e alegria de uma criança que descobre o mundo, ele deseja compartilhar sua descoberta, contudo mal interpretado, é jogado para fora de seu abrigo subterrâneo. O filósofo vive assim, e alguns morrem por isso, eles descobrem que o mundo pode ser visto de outros modos e ao compartilhar com seus companheiros, defrontam-se com uma viagem solitária que vai da simples aparência em direção à essência. Conhecer é lembrar. É re-conhecer. É superar as sombras ilusórias de nossa realidade em busca de uma superior, onde sejam eternas e perfeitas a formas e ideias, e não transitórias e imperfeitas as representações. Sandro Amorim